Latinoamericana: Mexeu com uma, mexeu com todas
As manifestações do 8M em Santiago
Voltamos ao Brasil depois de duas semanas em Santiago do Chile filmando o documentário “Latinoamericana: mexeu com uma, mexeu com todas”. Fomos impulsionadas pela necessidade de registrar a grande marcha do 8 de março. Juntamos nossas economias e nos endividamos acreditando na urgência dessa história ser contada.
A marcha do 8M contou com mais de 2 milhões de mulheres nas ruas da capital chilena. Foi a maior marcha da América Latina, quiçá do mundo. Em um grito uníssono, um pedido: Basta de violência, nos queremos vivas!
No calor escaldante daquele domingo imersas nesse mar de mulheres, nos sentimos acolhidas, seguras, fortes e vimos através de nossas objetivas e dos ininterruptos arrepios em nossas peles o grito das mulheres chilenas transpassar fronteiras e ecoar pelo mundo nossa unidade como Latinoamérica.
Lá se ouvia Marielle Franco, María del Pilar Hurtado, Macarena Valdés, Raquel Padilla e as tantas outras mulheres silenciadas pela violência.
Em meio a um período tão difícil com protestos diários envoltos de tanta truculência do estado contra seu próprio povo, na terra de Violeta Parra e Gabriela Mistral, surgem nas ruas como curas emanadas pelas machis uma infinitude de pañuelos verdes e violetas acendendo uma chama que ninguém conseguirá apagar.
As personagens do documentário Latinoamericana: Mexeu com uma, mexeu com todas
Essa chama é o que dá forças a Sibilina Victoria, que depois de vinte cinco anos de violência Intrafamiliar, grita por nós; a Nicole Kramm, fotógrafa, vítima de um tiro de bala de borracha que lhe tirou 90% da visão do olho esquerdo, quando exercia seu direito de cidadã, a documentar por nós; a Natalí Jarpa, estudante de enfermaria, porta voz do Movimiento Salud en Resistencia, a dar os primeiros auxílios aos manifestantes atingidos pelo estado; a Macarena Huichaman, mulher da resistência mapuche, a lutar pelo direito dos povos originários. Chama que dá forças as capuchas da primeira linha a encarar corpo a corpo o estado opressor e permitir que o povo possa gritar pelos seus direitos.
Não estamos sós! Juntas somos infinitas!
Ajude a gente a finalizar o documentário!
Assim como todos nossos amigos do audiovisual, tivemos os próximos trabalhos suspensos pelo surto do COVID-19, o que virou nossos planejamentos orçamentários de ponta a cabeça. Tivemos que aumentar nossa meta na Vakinha. Como já sabem, juntamos nossas economias e nos endividamos acreditando na urgência dessa história ser contada. Não é fácil fazer cinema no Brasil, mas jamais nos renderemos. Nosso trabalho é instrumento de fala.
Nosso projeto é 100% colaborativo. Equipamentos e hospedagem foram apoio de amigos e da Punto Ciego Cinema (Chile)